A polêmica da clonagem está instaurada desde o momento em que ela foi cogitada. Vista por muitos como uma nova forma de melhorar a raça humana-eugenismo-, foi motivação para ouvirmos afirmações no mínimo questionáveis de grandes cientistas, inclusive aqueles premiados com o Prêmio Nobel. Joshua Lederberg (Prêmio Nobel de Medicina em 1958) via “na clonagem humana, meio eficaz de produzir indivíduos superiores”. O ganhador do Prêmio de Medicina em 1962, Francis Crick, afirmou “nenhum recém-nascido devia ser reconhecido como ser humano antes de ter passado um certo número de testes, relativos à sua dotação genética”.
Mas seria ela moralmente correta? Com base em que informações afirmar-se-ia isso? Em informações mitológicas ou argumentos científicos? A criação de seres superiores ou “adaptados” seria um desrespeito ao homem e a natureza? É o que pretendemos discutir neste e em outros posts.
A eficiência da técnica em mamíferos é extremamente questionável. Anomalias podem ocorrer na gestação ou no decorrer da vida do clone. Genes que deveriam ativar-se podem não fazê-lo ou a reprogramação do núcleo introduzido pode se proceder de maneira incompleta ou equivocada pelo citoplasma do óvulo.
Um avanço das ciências biológicas que relaciona-se com a clonagem é a derivação de células-tronco embrionárias humanas. Estas células, têm a grande vantagem de não serem especializadas (como as demais células do nosso corpo), podendo se transformar e ocupar a função de qualquer célula do corpo. O conceito envolvido é o da clonagem terapêutica, no qual clonar-se-ia o embrião humano de uma célula adulta que estaria unida a um óvulo anucleado. Políticas e leis vêm sendo instituídas por muitos consideram tal ato imoral, no que se refere à obtenção de óvulos e utilização de embriões (desde os que têm ou não um potencial para gerar uma vida).
Em fevereiro de 2004 ocorreu um acontecimento interessante. Uma equipe de cientistas sul coreana publicou um artigo na revista Science no qual afirmavam ter clonado trinta embriões humanos e derivado células-tronco embrionárias de um deles. O tipo de célula por eles utilizado é conhecido como células cúmulus. Estas são encontradas somente em mulheres que deveriam doar seu núcleo, além do óvulo ocasionando que apenas mulheres fossem clonadas.
Uma série de questionamentos a respeito da obtenção de tais óvulos foi iniciada, pois para produzi-los em “grande escala” é necessária a utilização de medicamentos que podem causar certos desconfortos. Levando tal fato em consideração, pode-se inferir que as doadoras de óvulos deveriam ser as próprias pesquisadoras da equipe. Contudo, será que elas foram coagidas ou o fizeram por vontade própria? Está levantada a questão.
Desde a década de 70 na qual vinham sendo desenvolvidas as pesquisas a respeito da fertilização in vitro, um imaginário relacionado ao avanço das ciências biológicas é construído. A idéia projetada por muitos cientistas de que somos apenas a soma de um conjunto de genes esquece que, além de uma identidade genética temos uma identidade pessoal. Além de termos uma herança natural, somos influenciados pelo meio em que vivemos, não sendo possível criar um ser humano totalmente previsível, dentro dos parâmetros que foram planejados, a não ser que ele seja mantido isolado do mundo.
Não estariam sendo desvalorizadas as características humanas, a sua essência? Não estariam querendo escarnecer o papel de Deus, ferindo um aspecto que acompanha o homem desde os seus primórdios- a religião? Mediante tantas polêmicas- que não serão resolvidas tão cedo-, a ciência avança, concomitantemente com questionamentos relativos à ética e à moral.
Por: Marina Machado Marques
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